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terça-feira, 28 de outubro de 2008

A restauração da casa de Bragança

No início do ano de 1496, D.Manuel deixa Montemor, mas ainda lhe não foi permitido o regresso a Lisboa, por força da peste que por lá continuava. Talvez tenha sido por essa razão, que D.Manuel foi para Setúbal, mas não foi por certo por um simples acaso que escolheu aqueles domínios da Ordem de Santiago.

A razão principal na visita a sua mãe e irmãs, teve por certo o objectivo de em conjunto prepararem o regresso dos parentes que se haviam exilado em Castela depois de 1483(ver).

A decisão já ele havia tomado, pois lhes escrevera ainda em Montemor, devendo desta feita, ter feito a comunicação à família mais próxima, que havia solicitado a seus sobrinhos e primos. pedindo-lhes que regressassem a Portugal.

Muito embora este acto do rei, contrariasse a decisão expressa do seu antecessor, não deixou de exigir que o acto de desforra da mais alta nobreza de Portugal, pudesse resultar em critica que denegrisse a imagem de D.João II.

Este acto de carácter político, foi acompanhado dum outro de não menor significado,a restauração da casa de Bragança, já que a recriação do ducado de Coimbra, a D.Jorge e a diluição do seu título de duque de Beja na própria coroa, admitia que seria do seu interesse a existência duma segunda casa nobiliárquica.

Não cabe no âmbito destas pequenas notas, a quantidade de medidas que foram precisas tomar, para restaurar o título e os bens da casa de Bragança. Imagine-se só que D.João II os havia redistribuído por outros nobres,de modo que foi necessário desfazer essas concessões naturalmente em troco de outras, para restaurar a imensa fortuna dos Braganças.

Perceber-se-á o extraordinário tacto político de D.Manuel I, necessário para levar a cabo tal tarefa, no início do seu reinado, sem gerar uma enorme onda de descontentamento.

Dois traços do carácter de D.Manuel ficam desde logo em evidência, personalidade e tacto político

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cortes em Montemor-O-Novo

Pouco dias depois da sua aclamação, D.Manuel muda-se para Montemor-o-Novo, convocando cortes, a fim de ser jurado rei de Portugal pelos Três Estados, visto que os seus direitos dinásticos não haviam ainda sido reconhecidos pelos representantes, muito embora estes, não tenham sido nunca contestados.

Ali em Montemor, deu-se o reencontro entre o filho bastardo de D.João II, D.Jorge e o rei, que ainda não tinha acontecido, pois D.Jorge havia acompanhado os últimos dias de seu pai, no Alvor.

Relata Damião de Góis uma cena comovente, onde são transmitidas ao rei pelo aio de D.Jorge, os últimos momentos de D.João II. Segundo ele os últimos pensamento do falecido soberano, eram de alegria, pela qualidade da sua sucessão e de ansiedade por não estar certo do tratamento que viria a ser dado a D.Jorge.

Se dúvidas houvesse sobre as intenções de dispensar ao jovem primo o tratamento jurado, que o trataria como se de um filho se tratasse, que a partir daí, ainda sobre Damião de Góis, e até se casar D.Manuel dormiu com D.Jorge na mesma cama.

Esta atitude de bom entendimento, entre os eventuais seguidores de D.Manuel e de D.Jorge, cerceou a hipótese de guerra civil, que na vizinhança ibérica era tida como certa.

Nesta assembleia, o monarca ocupou-se de vários assuntos importantes para o governo do país
  • determinou enviar a Espanha um emissário para comunicar aos nobres fugidos às injustiças de D. João II que podiam voltar ao reino
  • confirmou também todas as doações do seu antecessor, mas ordenou que todos «que tivessem privilégios, liberdades, e cartas de mercês, e outras has viessem, ou mandassem cõfirmar, pera ho que ellegeo por cujo pareçer confirmava, derrogava, ou limitava, segundo ha qualidade das cousas requeria» (Rui de Pina).
D.Manuel haveria de permanecer em Montemor-o-Novo, entre Novembro de 1495 e Março do ano seguinte porque Lisboa estava infestada pela peste, que por ali grassava já por década e meia.

domingo, 12 de outubro de 2008

Aclamação de D.Manuel como rei de Portugal

Com a morte em Alvor, do rei D.João II, no dia 24 de Outubro de 1495, fica aberto o caminho para o trono, a D.Manuel, duque de Beja, culminando uma incrível sucessão de factos, provavelmente das mais invulgares da História do ocidente europeu.

Trata-se duma subida ao trono do único rei português sem ser nem descendente, nem irmão do seu antecessor, beneficiando da morte de um primo e de cinco irmãos.

Nem sempre aludo ao facto um pouco inverosímil da História de Portugal, de todos os reis terem um cognome, muitas vezes desajustado até, da realidade dos acontecimentos no período do respectivo reinado, porém, apelidar de Venturoso a D.Manuel I, parece-me perfeitamente ajustado, não só devido à conjugação dos factores que anteriormente referi e que o conduziram ao trono, mas naturalmente por tudo o que irá acontecer no decorrer da sua regência.

O desenho da sua aproximação à sucessão real, quando em 13 de Julho de 1491, morreu o príncipe D.Afonso, herdeiro da coroa. Formalmente é certo, porque por essa altura ,o rei D.João apenas com 36 anos estaria ainda a tempo de vir a ser pai de novo herdeiro do trono.

A estranheza de "comportamento da roda da fortuna", não faria crer, apenas 6 meses antes, do trágico desaparecimento do príncipe herdeiro, que o seu casamento com D.Isabel de Castela, era o corolário a consolidação do reino do Príncipe Perfeito, e os êxitos dos navegadores portugueses pelo Atlântico Sul e a passagem da Boa Esperança.

A preocupação era com o Duque de Beja, seu cunhado, que D.João II cuidava. Sem descendência o seu ducado poderia até extinguir-se pelo que o rei, lhe assegura em 19 de Maio que assumirá por completo todos as responsabilidades que uma eventual morte prematura de D.Manuel, pudesse ocasionar.

Situação totalmente invertida apenas 2 meses depois, seria afinal o príncipe herdeiro a desaparecer.

Durante os poucos anos em que D.João II, sobreviveu ao seu filho, procurou promover à sua sucessão o filho bastado D.Jorge, fruto duma relação que tivera com Ana Furtado de Mendonça e que relatei no blogue sobre D.João II e que pode ser consultado aqui.

Todos os cronistas referiram a atitude de D.Manuel acerca da aceitação da legitimação de D.Jorge de Lencastre , mas a forte oposição de sua irmã a rainha D.Leonor, acabou por conduzir ao malogro dessa pretensão.

No seu último testamento, D.João II nomeia D.Manuel como seu sucessor, mas apenas por um ano, sinal que além de prever a melhoria da doença que o afectava, também assinalava por certo o desejo que algo pudesse mudar, no que pretendia para D.Jorge.

Quando a morte de D.João II aconteceu, D.Manuel estava em Alcácer do Sal, tendo sido aclamado como rei no dia 27 de Outubro de 1495, tinha então 26 anos e iria reinar em Portugal outros tantos 26 anos.