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sexta-feira, 13 de março de 2009

O massacre anti-judaico em 1506


Como já anteriormente referi, D.Manuel I tinha um plano para resolver o "problema" dos judeus e dos mouros, que no fundo pretendia conciliar a questão religiosa, com os interesses da coroa.

Esperava D.Manuel que no espaço de uma ou duas gerações principalmente a antiga comunidade hebraica, acabasse por se diluir na cristandade, razão porque proibira que os cristão novos casassem entre si.

A desejada uniformização contudo não foi conseguida, mantendo-se em aberto toda a tensão relacionada com essa matéria, depois de 11 anos de governação, como se prova, pelos acontecimentos ocorridos em Lisboa entre 19 e 21 de Abril de 1506, quando foram assassinadas mais de 2000 pessoas, maioritariamente cristão-novos.

Numa altura em que Lisboa se passavam tormentos por mais um surto de peste, que levara o Rei e muitos fidalgo sa afastarem-se de Lisboa, criando entre o povo ,que era obrigado a manter-se na cidade a sensação de abandono, que traziam insegurança e angustia.

Foi assim que Damião de Góis descreveu o que se passou

No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio.

Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas.

Foi assim que acirrados por dois frades, se lançou a caça ao cristão-novo por toda a cidade, que prosseguiu por todo o dia 20 de Abril, chegando a entrar nas casas dos perseguidos , roubando-lhe o ouro e todos os bens que lhes interessassem.

Dava para tudo, até para consumar vinganças pessoais, dando a entender aos estrangeiros envolvidos que alguns dos seus inimigos eram cristão-novos.

Só no terceiro dia, as autoridades corporizadas no regedor Aires da Silva e o governador D.Álvaro de Castro, reunindo gente de bem, que não havia tomado parte na desordem, conseguiram restabelecer a ordem.

D.Manuel fora então avisado dos desacatos, mandando o prior o Crato e o barão do Alvito, para impor a ordem e fazer a justiça devida em seu nome. Os dois frades instigadores foram queimados vivos, tendo sido enforcados muitos dos implicados.

Aos vereadores da cidade, imputou D.Manuel a responsabilidade por não terem resolvido a questão mais cedo, impedido o selvático desenvolvimento. Acusando-os de negligência ordenou que fossem confiscados a todos eles o quinto dos seus bens moveis e de raiz

A Câmara Municipal de Lisboa inaugurou em 19 de Abril de 2008 construção um memorial às vítimas destes motins anti-judaicos.


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