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quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma armada com dois destinos

No ano de 1506 D.Manuel manda Afonso de Albuquerque percorrer a costa da Arábia, levando Tristão da Cunha como comandante de uma das suas naus de viagem. Um homem que não fora ter ficado temporariamente cego teria sido o primeiro vice-rei da India, facto que levou à sua substituição por D.Francisco de Almeida.

Já recuperado em 1506, foi-lhe entregue então o comando duma das naus, que saíram de Lisboa no dia 6 de Março, um poderosa esquadra composta por 14 unidades, comandadas por capitães de valor reconhecido.

O começo foi trágico com numerosas mortes ao que se julga motivada por peste, pela contaminação que traziam já de Lisboa e que causou naturalmente imenso pânico. Uma vez afastada a peste, Afonso de Albuquerque com a sua armada, seguiu para a ilha de Moçambique, para reabastecer porque as ordens eram , para Albuquerque além de fustigar a navegação muçulmana nas imediações da Arábia, posteriormente atacar Ormuz.

Enquanto as forças de Tristão da Cunha, seguiam a rota normal da Índia e já antes se haviam separado das naus de Albuquerque acaba por descobrir no Atlântico sul, o pequeno arquipélago que viria a ostentar o seu nome, Tristão da Cunha.

Fazendo depois o reconhecimento de Madagáscar, seguiu ao longo da costa de África, onde venceu os muçulmanos de Hoja e Brava, conquistando, pouco depois, a ilha de Socotorá aos árabes fartaques.




sexta-feira, 13 de março de 2009

O massacre anti-judaico em 1506


Como já anteriormente referi, D.Manuel I tinha um plano para resolver o "problema" dos judeus e dos mouros, que no fundo pretendia conciliar a questão religiosa, com os interesses da coroa.

Esperava D.Manuel que no espaço de uma ou duas gerações principalmente a antiga comunidade hebraica, acabasse por se diluir na cristandade, razão porque proibira que os cristão novos casassem entre si.

A desejada uniformização contudo não foi conseguida, mantendo-se em aberto toda a tensão relacionada com essa matéria, depois de 11 anos de governação, como se prova, pelos acontecimentos ocorridos em Lisboa entre 19 e 21 de Abril de 1506, quando foram assassinadas mais de 2000 pessoas, maioritariamente cristão-novos.

Numa altura em que Lisboa se passavam tormentos por mais um surto de peste, que levara o Rei e muitos fidalgo sa afastarem-se de Lisboa, criando entre o povo ,que era obrigado a manter-se na cidade a sensação de abandono, que traziam insegurança e angustia.

Foi assim que Damião de Góis descreveu o que se passou

No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio.

Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas.

Foi assim que acirrados por dois frades, se lançou a caça ao cristão-novo por toda a cidade, que prosseguiu por todo o dia 20 de Abril, chegando a entrar nas casas dos perseguidos , roubando-lhe o ouro e todos os bens que lhes interessassem.

Dava para tudo, até para consumar vinganças pessoais, dando a entender aos estrangeiros envolvidos que alguns dos seus inimigos eram cristão-novos.

Só no terceiro dia, as autoridades corporizadas no regedor Aires da Silva e o governador D.Álvaro de Castro, reunindo gente de bem, que não havia tomado parte na desordem, conseguiram restabelecer a ordem.

D.Manuel fora então avisado dos desacatos, mandando o prior o Crato e o barão do Alvito, para impor a ordem e fazer a justiça devida em seu nome. Os dois frades instigadores foram queimados vivos, tendo sido enforcados muitos dos implicados.

Aos vereadores da cidade, imputou D.Manuel a responsabilidade por não terem resolvido a questão mais cedo, impedido o selvático desenvolvimento. Acusando-os de negligência ordenou que fossem confiscados a todos eles o quinto dos seus bens moveis e de raiz

A Câmara Municipal de Lisboa inaugurou em 19 de Abril de 2008 construção um memorial às vítimas destes motins anti-judaicos.


terça-feira, 3 de março de 2009

D.Francisco de Almeida Vice-Rei

A importância da presença portuguesa na Índia justifica que D. Manuel tenha compreendido que, devido ao grande espaço, era necessário haver coordenação e autoridade, para garantir o comércio das especiarias. Era necessária uma presença permanente no local, com poderes decisórios.

Sob o ponto de vista comercial, ainda era um facto que o comércio da Índia com a Europa, estava no poder dos mouros e dos mercadores venezianos e o objectivo com a descoberta do caminho marítimo, trazer para Portugal a preponderância comercial dos produtos orientais, principalmente especiarias e sedas.

O aspecto religioso trazia o grande objectivo missionário de Portugal, para conter o Islão e sob o ponto de vista político, começava a desenhar-se a ideia dum projecto imperial.

A escolha para primeiro Vice-Rei, recaiu sobre D. Francisco de Almeida, que foi empossado nesse cargo partindo de Lisboa a 25 de Março de 1505, estando desde logo estabelecido que a nomeação sería por 3 anos.

Em boa verdade e em rigor o facto é que segundo esse regimento, o governador-mor, só tomaria o título de Vice-rei logo que tivesse erguido fortalezas em Cananor, Cochim e Coulão.

A frota constituída por 22 naus, que partiu nessa data ia equipada por um forte dispositivo bélico, porque já estava definido que, só pela guerra, poderiam assegurar a posição das feitorias já estabelecidas e a expansão a novos pontos nevrálgicos.As instruções fora a captura e fortificação de Sofala e Quíloa e que construísse uma fortaleza na ilha de Anjediva, como já havia dito

A ideia era construir se possível um bom entendimento com os soberanos locais, mas em caso de necessidade, usar a força era imperioso.

Cumprindo o estabelecido no regimento, D. Francisco começa por empreender o plano traçado para a costa oriental de África. Fazendo amizade com o rei de Sofala e edificando uma fortaleza, impedia assim o fornecimento de ouro que nesse porto abastecia os mercadores árabes.

Em Quíloa o rei fugiu quando viu chegar a armada portuguesa. Este havia usurpado o trono do antigo soberano, que tinha aceite a vassalagem ao rei português. No seu lugar, o governador colocou um mouro que tinha ficado como refém, por demonstrar merecer a sua confiança. Esta política tinha por finalidade facilitar a comunicação, vencendo assim a barreira da língua.

O rei de Mombaça recebeu a esquadra do vice-rei com guarda reforçada, pois tinha tomado conhecimento do que se passara em Quíloa. Tentou alvejar Almeida e a sua comitiva, empreendendo a fuga posteriormente. D. Francisco mandou um emissário dizer ao rei, que se aceitasse ser vassalo do rei de Portugal, poderiam entende-se facilmente, caso contrário lhe faria guerra. Como não aceitou a rendição, D. Francisco de Almeida mandou incendiar parte da cidade, para que os seus homens pudessem entrar mais facilmente e saquea-la.

Já na Índia mandou erguer a fortaleza de Anjediva aproveitando uns alicerces já ali existentes, junto ao mar. Esta fortaleza estava num ponto muito sensível e na ausência do governador, foi atacada pelos mouros por via terrestre. Saquearam toda a mercadoria e queimaram a frota que estava fundeada. Esta fortaleza viria mais tarde a ser destruída por ordem de D. Francisco, uma vez que as despesas eram superiores aos lucros, devido aos roubos.

Em Cochim, Cananor e Ceilão, as negociações resolvem-se pela via diplomática, ficando tributários de Portugal.

O comércio português no Índico estava em franco progresso, e para isso contribuiu em grande parte o bom entendimento com alguns soberanos do Malabar. Estes, descontentes com os mouros egípcios e turcos, que só negoceiam com Calecute, fazem-se amigos dos portugueses e prometem o seu apoio. O acesso ao mar Vermelho estava cada vez mais condicionado, passando só as embarcações que tinham o “livre trânsito” e para o obter, tinham de fazer o pagamento prévio do imposto. Esta situação não agradava aos mouros do Cairo, que utilizavam aquele mar para abastecer Veneza e toda a zona mediterrânica.

Em carta de Dezembro de 1505, dirigida a D. Manuel, D.Francisco de Almeida diz-lhe espero que em meu tempo sereis Imperador deste mundo de cá.

Créditos:Universidade Católica Portuguesa-(Polo de Viseu) Trabalho realizado por Albina Faria 2002/ 2003